11 de maio de 2008

Para minha mãe;

Shakespeare uma vez disse que com o tempo, a gente aprende a sutil diferença entre dar a mão, e acorrentar uma alma. Eu, entretanto, digo que o tempo necessário para esse aprendizado, se a resume nove meses. Não quaisquer nove meses. Os nove meses em que do nosso lado esquerdo do peito, há dois batimentos. Os nove meses em que nosso corpo responde aos estímulos de um outro corpo. E onde quer que esse corpo vá, nós vamos. O que quer que esse corpo sinta, nós sentimos. Nesse momento, acorrentar uma alma deixa de ser uma metáfora. No dia que nascemos, as correntes são quebradas, e dar a mão passa a ser uma conseqüência constante, afinal, é ela que nos segura quando encetamos nossos primeiros passos, e é ela que nos afaga, quando derramamos nossas lágrimas de criança. Mas aí, o tempo que tanto disse Shakespeare vem. Vem assolador; levando a infância, as bonecas, os carrinhos. Leva os desenhos animados mantinham-nos distraídos, e chegam os problemas – triviais, porém problemas – e é nessa hora, que descobrimos que a mão que nos acolhia era bem mais que uma mão. Era um colo. Um sorriso. Um olhar. Descobrimos que todas as vezes que acordávamos de madrugada... “Mãe, não consigo dormir” eram apenas pretextos para conferir se ela ainda estava ali. Firme e forte, para nos acordar na manhã seguinte e nos obrigar a ir pro colégio, nos obrigar a usar roupas agasalhadas, nos obrigar a dormir cedo. Lembro-me dos rabos-de-cavalo ao alto da cabeça. Eu, de fato, os odiava. Mas quando eu saía, vinha a repercussão. “Nossa que lindos cachos” ou então; “quem cuida do seu cabelo” e eu sempre respondia entre bufos e resmungos... “Foi minha mãe.” Não sabia eu, que mais tarde (hoje) eu sentiria tanta falta de ter os cabelos presos pelas mãos que sempre me foram tão afáveis, dos braços que sempre que envolveram, quentes, como uma crosta espessa de gelo, me resguardando do fogo do mundo. Dos problemas grandes (que eu ainda não enfrentei). Mas sabe de uma coisa? Eu sei, que não importa o quanto o céu esteja escuro; ou o quanto tudo pareça perdido. Quando eu precisar de ajuda, de conselhos, de abraços; ou simplesmente chorar... Ela vai estar lá. No meu quarto preto e branco, na minha cama quadriculada... Me esperando para dizer com seu carinho habitual: Vai passar minha filha. Tudo vai ficar bem.

Mãe, eu sinto tanto a sua falta.
Mas eu sei, que por mais que os quilômetros nos separem, nós estaremos sempre juntos. Porque das correntes que partiram, restou o grande amor que nos une. Feliz dia das mães, minha mãezinha!

2 de maio de 2008

O que ela quer.

E então livrou-se dos sapatos. Gostava de sentir a carícia da terra em seus pés, e o toque da brisa em suas feições. Um sorriso plácido luzia em seus lábios avermelhados, levemente contornados por um batom em tons escarlate (mais por hábito que por vaidade), enquanto deixava-se caminhar rumo ao encontro do verde com o anil. O panorâmico toque do oceano ao céu. A célebre paixão entre o luar e o mar.
Rumava para destino ímpio e vacilante, que visto do alto, mais parecia um ponto incerto. Girando, girando e girando, para nunca parar. E porquê não pára, nem sequer existe. E se não existe, porque o procura? Ela não se importa. Ela não quer saber. Apenas quer sentir o vento permear da alma. A chuva molhar o corpo. A morte soterrar a vida. Tudo... ao seu tempo.

Quem me segue (se perde comigo)